Lembro do tempo em que o maior avanço tecnológico da minha infância era o controle remoto da televisão. Aquilo sim era magia: trocar de canal sem levantar do sofá, aumentar e diminuir o volume. Os consoles de videogame vieram logo a seguir e depois, os computadores. Hoje, a mágica atende por outros nomes – Alexa, ChatGPT, Gemini… e por aí vai.
Não se pode negar que a IA já não é mais uma simples promessa de filmes futuristas. O “Jarvis” e a “Sexta-Feira” de Tony Stark já andam por aí, pelas casas, pelas empresas. A IA está no celular que nos acorda, no GPS que nos sugere a rota e até no streaming que nos conhece melhor que nossos melhores amigos. E no meio desse admirável mundo novo, surge uma pergunta inquietante: estamos usando a inteligência artificial para sermos mais inteligentes ou apenas mais artificiais?
Essa pergunta me perseguiu por semanas. Perturbou meu sono, soprou ideias no meu ouvido enquanto eu preparava uma palestra que tinha tudo para ser sobre tecnologia, mas que acabou sendo, no fundo, sobre humanidade. E tudo sempre será sobre o fator humano. Há uma humanidade gigante que separa o código do brilho nos olhos.
Entretanto, nunca tivemos tanto acesso à informação. Tudo instantâneo e ao alcance dos olhos. E, paradoxalmente, nunca corremos tanto risco de perder o pensamento crítico, a criatividade, a empatia. A IA, convenhamos, faz muita coisa, nos ajuda imenso, nos faz ganhar tempo, mas ela ainda não sabe reconhecer a beleza de um silêncio, o valor de um erro, a poesia de um olhar.
A inteligência artificial pode escrever uma música, mas talvez nunca sinta a dor de um coração partido. Pode te lembrar do aniversário de alguém, mas não entende o peso de um abraço. Pode sugerir soluções brilhantes, mas não toma café olhando para o infinito, refletindo sobre o sentido da vida.
Antes de aceitar a próxima sugestão do algoritmo da IA, respire profundamente. Use-a como uma grande aliada, faça-a nos provocar, não nos adormecer. O maior risco, afinal, não é sermos substituídos, e sim perdermos nossa humanidade. A arma pode ser mais fatal do que parece quando cai em mãos erradas.
Corremos o risco de criar adultos especialistas em escrever prompts geniais, mas incapazes de compreender o resultado daquela pergunta. Portanto, use a inteligência artificial para crescer, não para esquecer quem você é. Entre o algoritmo e a alma, escolha continuar humano.